segunda-feira, 20 de junho de 2016

REB, março de 1997: As CEB´s na "estação da seca"

AS CEB'S NA "ESTAÇÃO DA SECA"

Introdução

             Muito já foi dito sobre as CEB's. Vale a pena voltar ao assunto? Não são poucos os que se referem a elas como uma fase passageira na história da Igreja do Brasil. Uma espécie de moda à qual aderiu quem quis, sem maiores consequências para a Igreja como um todo. Outros já disseram que as CEB's se encontram na "estação da seca". Expressão maravilhosa: sugere que elas fazem parte de um processo histórico permanente. Há o momento da terra parada, esturricada, seca de doer a vista. Tempos de aflição. Mas há também o momento que não se sabe bem de onde vem, o "cio da terra em propícia estação". E o chão fecundado explode em nova colheita. Tempos de alegria. Dentro do seu rancho, o lavrador dorme tranquilo: a natureza tarda, mas não falha. Ela se confunde com o próprio Deus. Depois de 30 anos de dedicação às CEB's, sempre no contexto de uma Paróquia, 16 anos no Vale do Ribeira, no litoral sul paulista, e 14 anos na periferia de S. Paulo, é assim que olho para elas hoje. Sem dúvida estamos em época de seca prolongada, mas as chuvas não vão faltar e a estepe vai florir.
              Espero que esta visão, um tanto quanto otimista, não me impeça de olhar, com a maior imparcialidade possível, para a dura realidade que as CEB's enfrentam hoje no cenário eclesial. Gostaria de colocar em discussão a "árvore explicativa" das CEB's, diagnosticar com maior rigor metodológico as causas da doença, os "nós críticos" dos problemas. Gostaria de fazer esta análise não apenas a nível global, mas também aplicá-la a nível local, a partir de um caso concreto na Zona Sul da grande S.Paulo. Finalmente gostaria de tecer alguns comentários sobre as novas ferramentas que vão surgindo e que podem ajudar as CEB's a continuar sua caminhada.

1. As CEB's, seus problemas, e sua "árvore explicativa", a nível nacional

Se queremos caracterizar ou definir o que está acontecendo com as CEB's, a nível nacional, podemos nos aproximar delas de formas diferentes. Podemos limitar-nos a uma análise eclesiológica. Podemos também analisá-las a partir de uma perspectiva histórica, bíblica ou teológica. Todos estes enfoques se justificam perfeitamente mas parece que chegaram a um certo esgotamento. Apesar das divergências ocasionais parece-nos existir até um quase-consenso, tanto em termos de levantamento dos problemas quanto nas diferentes formas de interpretá-los.
            Mais importante do que interpretar, teoricamente, as CEB's, no nosso entender, é ajudá-las a caminhar na prática. Esta é a nossa perspectiva. O grande objetivo das CEB's, como de toda a Igreja, é evangelizar, e evangelizar é uma determinada forma de educar. A prática pastoral das CEB's é uma prática educativa. O que ocorreu, historicamente, é que a educação popular evoluiu na sua concepção e na sua metodologia, e as CEB's não acompanharam. A educação popular desenvolveu novas formas de conhecimento da realidade, e as CEB's pararam no "ver, julgar e agir", isto sem desmerecer os grandes avanços que este método trouxe para a prática pastoral da Igreja do Brasil. A educação popular continua testando novas fórmulas para o planejamento das organizações populares, as CEB's desistiram desta prática fundamental. A educação popular aprendeu a "sistematizar" as práticas sociais populares, elemento poderoso para continuar avançando nesta mesma prática, as CEB's se perderam nas disputas eclesiais internas e se entregaram ao desânimo.
             Parece-nos da maior importância retomar a experiência das CEB's a partir das conquistas que ocorreram no campo da educação popular. Sem responsabilidade direta por uma Paróquia trabalhamos hoje numa ONG -"Organização Não Governamental"-, no caso o CDHEP, Centro de Direitos Humanos e Educação Popular, na Zona Sul de S.Paulo. Mais do que nunca percebemos o distanciamento crescente entre as CEB's, que tendem a um fechamento sobre si mesmas, e estas Organizações que se mantem abertas aos avanços da Educação Popular. Recentemente, num curso de formação de educadores populares, no Instituto Cajamar, pudemos perceber que 75% destes educadores, quase todos ligados a alguma ONG, tiveram sua primeira atuação dentro das CEB's. Hoje atuam, como também o CDHEP, de forma autônoma. Para a Igreja como um todo, mas especificamente para as CEB's, é vital construir uma ponte.
               Uma das ferramentas novas que a educação popular desenvolveu nos últimos anos é o "PES"- Planejamento Estratégico Situacional. Há outras que visam igualmente o planejamento  da organização popular a partir de sua perspectiva estratégica,   mas esta é particularmente importante por oferecer-nos um instrumental adequado para o planejamento pastoral. Ponto inicial deste planejamento é definir mais claramente qual é o problema que realmente queremos enfrentar. Nas chamadas práticas sociais, sejam elas do movimento sindical, partidário, ou do movimento popular, incluindo, numa perspectiva mais ampla, os chamados "movimentos sociais", os problemas enfrentados são de uma complexidade crescente. Além do mais apresentam entre si uma espécie de "cadeia causal". Um determinado problema é causa de outro, ou de outros. Há causas mais de fundo, os chamados "nós críticos". Como os recursos humanos e financeiros para enfrentar os problemas costumam ser escassos, o mais lógico é gastar energia nos nós críticos uma vez que, desta forma, a tendência é de agirmos positivamente sobre um maior número de problemas e problemas mais fundamentais.
             A ação pastoral da Igreja é também uma prática social. O objetivo maior da evangelização não é uma mera transmissão de doutrina, desligada da vida concreta das pessoas. Trata-se de uma educação religiosa que pretende gerar "Vida", e Vida em abundância. A construção do Reino, dentro do objetivo geral da CNBB, passa pela construção subjetiva para atingir uma profunda transformação social e cultural dentro da sociedade brasileira. É neste sentido que as ferramentas usadas para analisar e dinamizar as práticas sociais, dentro do campo da educação popular, se adaptam perfeitamente aos objetivos da educação religiosa e da ação pastoral da Igreja de modo geral.

1.1 Os problemas enfrentados pelas CEB's a nível nacional

Quais são estes problemas que as CEB's enfrentam hoje na Igreja do Brasil? Tomando como base as publicações dos últimos anos, e sem a pretensão de apresentar um levantamento minucioso ou exaustivo, parece-nos que o seguinte feixe de problemas se aproxima do consensual:
1. As CEB's se encontram na "estação da seca": há um certo desânimo, uma sensação de crise, um sentimento de insegurança com relação ao futuro.
2. As CEB's tem dificuldade em oferecer uma espiritualidade, ou uma mística, às suas lideranças mais politizadas e às que atuam por fora dos seus limites institucionais.
3. Muitas lideranças se afastam das CEB's.
4. Muitas CEB's se encontram em processo de "paroquialização". - O termo é usado aqui no seu sentido negativo: uma volta ao passado das paróquias caracterizadas por um processo de centralização, clericalização e burocratização. Outro é o caso de Paróquias articuladas como um conjunto de CEB's.
5. Percebe-se nas CEB's uma tendência de fechamento sobre si mesmas.
6. Cresceu na hierarquia da Igreja a porção que olha para as CEB's com desconfiança ou até oposição aberta.
7. Muitas lideranças das CEB's se distanciam de suas "bases", e se queixam do "atraso" das mesmas.
8. As CEB's não conseguiram alcançar pra valer a grande massa dos excluidos da sociedade.
9. A prática pastoral das CEB's não costuma ser "sistematizada", deixando mais confuso o caminho a seguir. -
Sistematizar uma prática social é algo muito sério em educação popular. É muito mais do que uma simples síntese da caminhada feita. É olhar com maior rigor metodológico para um determinado passo, significativo e planejado, dentro da caminhada maior. Verificar se o resultado correspondeu às expectativas, analisar os porquês do sim ou do não, interrogar a experiência no sentido de buscar aonde é preciso avançar, quais os caminhos a percorrer, etc. E tudo isso de modo participativo com os que se envolvem na  ação.
10. Percebe-se um processo de desarticulação entre as CEB's e entre os agentes pastorais comprometidos com elas.
11. Parte dos membros das CEB's, e até parte de suas lideranças, foi cooptada pelos movimentos eclesiais de espiritualidade.
12. As CEB's contribuiram com a conscientização política das classes populares. Não alcançaram, porém, uma transformação cultural, mais ampla e mais profunda.
13. A retomada de uma formação idealista, em detrimento de uma formação a partir da prática (metodologia da práxis). - A formação idealista parte do conceito, da idéia, da teoria. Teorizando do melhor modo possível busca tirar conclusões que incidem sobre a prática. A formação a partir da prática segue um caminho inverso: analisa primeiramente a prática, suas causas e consequências, suas contradições internas, seus acertos e desacertos, e daí extrai a teoria, o conhecimento. Com o conhecimento adquirido volta para a prática a fim de aperfeiçoá-la, e isso numa dialética ininterrupta. É a "metodologia da práxis".
14. Crescendo em autonomia, os movimentos sociais dependem menos das CEB's, e estas investem menos nestes movimentos.
15. As CEB's conseguiram animar, conscientizar e organizar parcelas relativamente pequenas das camadas populares.
16. As CEB's ainda não conseguiram resolver a autonomia do leigo na Igreja e continuam numa dependência excessiva da Igreja Institucional.
17. Os agentes pastorais e as lideranças leigas não tem uma compreensão adequada da formação e do planejamento a partir da metodologia da práxis.
18. O planejamento pastoral das CEB's, quando existe, não é mais priorizado, e não obedece a critérios metodológicos adequados.
19. As CEB's não conseguiram envolver a classe média católica que opta cada vez mais pelos movimentos eclesiais de espiritualidade.

1.2 A "árvore explicativa"  e os "nós críticos"

              Se olharmos mais atentamente para a relação entre os diversos problemas acima indicados não será difícil descobrir entre eles um certo relacionamento de causas e efeitos. Dificilmente a realidade social se deixa explicar por uma única causa. Há sempre uma complexidade de fatores em jogo. Se estabelecermos, porém, uma relação de causa e efeito entre todos os problemas observaremos que, dentro desta complexidade, algumas causas se destacam por serem mais "de fundo". Outros são mais visíveis. Podemos "descrevê-los" ( os "descritores"). São os problemas que rersultam de outros. Frequentemente uma única causa explicativa tem peso maior por relacionar-se, direta ou indiretamente, com praticamente todos os problemas levantados.
             Dentro da metodologia do "PES" estas causas mais fundamentais são chamadas de "nós críticos".  Como demonstra o quadro global seguinte, os nós críticos principais, na nossa interpretação, se concentram na dependência excessiva das CEB's da Igreja Institucional, interferindo fortemente na autonomia dos leigos, e também na falta de familiaridade dos agentes pastorais e das lideranças leigas com a metodologia da práxis em termos de formação e de planejamento. O nó essencial que está por trás destes dois nos parece ser: a retomada de uma formação idealista em detrimento de uma formação a partir da práxis. Veja o quadro anexo:

1.3 Comentando o nó

               O nó crítico que apontamos tem tudo a ver com a teoria do conhecimento que, consciente ou inconscientemente, adotamos. O que é conhecimento? De onde surge? Como se constrói? No mundo da física, a teoria é construida a partir do experimento. Repetindo o mesmo experimento, em iguais condições, e obtendo o mesmo resultado, os físicos formulam suas "leis da natureza". A ciência, de modo geral, se baseia sobre o mesmo alicerce: da observação da realidade se extrai a teoria, o conhecimento. Transferindo este mesmo princípio para a realidade social, a tarefa do observador parece complicar-se muito. A realidade social envolve aspectos econômicos, políticos, culturais, religiosos, psicossociais, etc. Aparentemente tudo está em constante transformação. Os diferentes fatores agem entre si compondo novas configurações. É mais difícil levantar o véu das aparências, ainda mais que cada ponto de vista é a vista de um ponto. Particularmente nas ciências sociais os pontos de vista costumam ser tão diversificados quanto a própria realidade social. Metodologicamente não existe, porém, um outro caminho. Da mesma forma como no mundo da física, também aqui só podemos extrair teoria , ou ao menos um conhecimento mais seguro, a partir do experimento ou da observação da realidade. Especialmente quando esta tarefa é assumida coletivamente, não nos é impossível descobrir o que está por trás das aparências. Descobrimos certas regras de funcionamento da sociedade, construimos modelos explicativos, formulamos teses a respeito das diversas práticas sociais, em fim, acumulamos conhecimentos e construimos assim nossas teorias. Instrumentalizados com nossa teoria voltamos para a observação da prática, agora com um olhar mais acurado, com novas perguntas e questionamentos, etc. E surgirá um novo conhecimento da realidade. Este processo de olhar a prática, construir teoria e voltar para a prática constitui a "metodologia da práxis". O essencial nesta metodologia é a relação dialética entre teoria e prática no processo de construir conhecimento. Daí a expressão "concepção dialética do conhecimento".
             Esta concepção não é, porém, a única. Existe também a "concepção idealista do conhecimento". Ela marcou profundamente o chamado mundo ocidental do qual fazemos parte e cuja cultura foi influenciada em larga escala pela filosofia grega e seu desabrochar na teologia escolástica. Esta concepção que, basicamente, dispensa a relação dialética entre teoria e prática, se arraigou profundamente no próprio ser da Igreja. Nesta concepção a teoria, metodologicamente, surge da própria teoria. Parte-se do conceito, do mundo das idéias, para desenvolver novos conceitos ou novas idéias. Evidentemente estas idéias - o conhecimento - pretendem interpretar a realidade. O teste da maior ou menor veracidade não se encontra, no entanto, na observação metodológica da própria realidade. O teste da veracidade se encontra no esboço teórico já elaborado.
            O perigo desta concepção é afastar-se cada vez mais da realidade e, consequentemente, equivocar-se quando quer interpretá-la ou orientá-la. Cria seu mundo próprio. Exatamente por abstrair da realidade em constante transformação, tende para uma postura dogmática e legalista que pouco ou nada contribui para quem precisa lidar com o real, especialmente o "novo". Na nossa análise pessoal da problemática das CEB's, no Brasil, e na Igreja como um todo, está aí a causa fundamental do fato de a Igreja não ser "Mãe e Mestra" do povo, por mais que o queira. Por todos os lados surgem correntes teológicas que rompem com o modelo idealista. Em meio a tudo isto, porém, continua inabalável o que poderíamos chamar a "Escola Teológica do Vaticano". Enquanto esta Escola ficar presa a sua concepção idealista e tiver hegemonia no pensamento e nas práticas das hierarquias eclesiais, a Igreja não terá condições de caminhar junto com seu povo. Para isto falta-lhe a metodologia da práxis. Também Jesus percebeu os equívocos dos que não souberam interpretar os "sinais dos tempos". Na fase aúrea das CEB's, coincidente com a postura mais comprometida da Igreja - com base na metodologia da práxis -, pesquisa realizada na PUC de S.Paulo demonstrava um grande crescimento na credibilidade da Igreja junto à população estudantil. Hoje, diante da postura oficial da Igreja, especialmente na área da moral, como demonstram programas de televisão, a reação popular é impublicável. É a retomada da postura idealista a todo vapor. As CEB's vieram para renovar também a Igreja. Será que perderam a batalha?

2. A "árvore explicativa" das CEB's a nível local

O momento histórico das CEB's, a nível nacional, pode não ser o momento histórico das CEB's a nível local. Por mais animadores que sejam os Encontros Nacionais, a nível local o dinamismo das CEB's pode estagnar ou rolar ladeira abaixo. É o que, em muitos lugares, está acontecendo de fato. Tendo em vista um trabalho de formação junto às CEB's da Igreja local, o CDHEP não quis apenas fazer uma análise a nível nacional, mas também verificar em que medida a problemática nacional se refletia na nossa realidade local. Seguindo novamente os passos indicados pela metodologia do "PES", partindo da constatação genérica da perda do dinamismo das CEB's na Diocese, levantamos primeiramente os "descritores" do problema. Estes descritores mostram ou evidenciam o problema, indicando algo que, em muitos casos, pode até ser medido, com tendência para mais ou para menos. Estabelecendo em seguida a cadeia de causas e consequências de cada descritor surgiu a "árvore explicativa" das CEB's a nível local como demonstra o quadro global anexo. Não foi difícil demonstrar que o nó crítico a nível nacional também é o nó crítico a nível da Diocese. Provavelmente será assim em todos os lugares onde as CEB's perderam seu dinamismo tradicional.

2.1 Esperando a nova "estação"

Se a "retomada de uma formação idealista" for realmente o nó crítico das CEB"s, e no sentido mais amplo de toda a Igreja, - e é isto que estamos colocando em discussão, - não há dúvida que é a partir desta perspectiva que devemos recomeçar a planejar nossa prática pastoral. Existe, no entanto, um problema muito sério. A formação idealista atinge as CEB's, e isto pode ser observado claramente caso nossa análise seja correta, através dos agentes de pastoral, da hierarquia, dos Conselhos Pastorais e das lideranças leigas, em boa parte formadas por estes mesmos agentes. Tanto a nível nacional como a nível local a árvore explicativa das CEB's mostra que a concepção idealista, muito presente na hierarquia e nos agentes pastorais, se transforma, em certo sentido, numa barreira quase intransponível. A própria lógica da concepção idealista impede o leigo, ou os leigos das CEB's, de caminhar a partir de sua  realidade específica. Na concepção idealista a relação "leigo/hierarquia" é analisada a partir de conceitos eclesiológicos e teológicos bastante cristalizados. Querendo caminhar a partir destes conceitos, o mais provável é que se consiga aqui e alí algumas melhoras inconsistentes mas não "um novo jeito de ser Igreja". Se este for um objetivo sério será preciso caminhar a partir da prática do próprio leigo. Refletir a prática  desta relação com a hierarquia, assumir seus desafios e construir junto com ele uma nova relação. Para que isto ocorra sem imposições dogmáticas  e sem preconceitos, de ambas as partes, é imprescindível acreditar profundamente que o Espírito se revela dentro e não fora do processo histórico desta relação. Se hoje as CEB's se encontram na estação da seca não é porque o Espírito deixou de soprar. É que altos muros cercam as CEB's, construidos pela hierarquia da Igreja, impossibilitando o chão fértil de germinar. Não que houvesse, em princípio, má vontade. É a concepção idealista que não permite caminhar. Queremos agora apontar algumas pistas pastorais que vão no sentido do enfrentamento deste nó.

2.2 Pistas para o encaminhamento pastoral

            1. Incentivar os agentes de pastoral - leigos, padres, irmãs e bispos - para estudar mais profundamente a metodologia da educação popular. - Aqui não se trata do conhecimento teórico da concepção e do método. Este, muitos até já dominam razoavelmente. O que falta é o conhecimento prático, o hábito de refletir, questionar, sintetizar e conduzir, com os próprios leigos envolvidos, as diversas práticas pastorais dentro desta concepção e metodologia.
            2. Deslanchar, na perspectiva da educação popular, um processo de "assessoria metodológica" para os diversos níveis de planejamento pastoral. - Nas décadas de 60 e 70 a Igreja do Brasil teve momentos muito fortes em termos de planejamento pastoral. Este planejamento "empurrou" as CEB's a olhos vistos. Com o passar do tempo foi se constatando, no entanto, que as coisas vinham "de cima para baixo". A renovação conciliar, na época um desejo forte assumido também pela hierarquia, ajudou em muito a Igreja chegar até onde chegou. Uma vez claro, porém, que a correta metodologia exigia um procedimento de baixo para cima, a CNBB passou a planejar apenas a sua própria ação, deixando as CEB's de mãos abanando. Já que é de baixo para cima, fiquem à vontade. A prática pastoral da última década demonstra, no entanto, que não bastam as "diretrizes gerais". Há uma insegurança muito grande por parte das CEB's e das Dioceses em termos de metodologia adequada. O princípio consagrado da subsidiariedade pede que não se faça aos níveis superiores o que pode e deve ser feito aos níveis inferiores, mas isto não significa que os níveis superiores devam ficar numa simples atitude de espera. Os níveis superiores da Igreja estão sempre a serviço dos níveis inferiores. Um dos maiores serviços que a CNBB pode prestar às CEB's e à Igreja de modo geral, no momento, é oferecer uma adequada assessoria metodológica aos diferentes níveis da Igreja onde o planejamento pastoral é imprescindível (CEB's, Paróquias, Regiões e Dioceses).
            3. Familiarizar-nos com uma nova ferramenta: sintetizar e socializar as nossas práticas pastorais. - Agindo não a partir de dogmas já estabelecidos, mas a partir de caminhos a serem encontrados numa realidade social em constante mudança, todos precisaremos uns dos outros, os "de cima" e os "de baixo", os intelectuais e, digamos, os práticos. Trata-se de iluminar a prática, e seus desafios, com uma boa teoria, construida a partir da própria prática. Para que isto ocorra é indispensável "sintetizar" a prática pastoral: ver juntos se ela realmente está gerando "Vida" e, caso contrário, como corrigir o rumo. Não há intelectual ou santo que possa fazer isto sem entrar na caminhada. Uma vez sintetizada uma experiência pastoral realizada, por mais simples que seja, - e tudo pode ser feito com simplicidade se a vontade básica é a de querer servir - ela deverá ser socializada. A troca das experiências é vital. Conhecimento é uma construção coletiva. Isso é particularmente importante para a Igreja. Ninguém sozinho é Igreja. Nenhuma CEB, isolada, é Igreja. Nenhuma hierarquia, isolada, é Igreja. As verdadeiras experiências pastorais são sempre uma "experiência de Emaús". Conversando juntos descobrimos onde Deus está vivo e onde pode  ser encontrado. Como não correr ao encontro dos irmãos para dizer-lhes isto? E enquanto houver dúvida, sempre poderemos ter como companheiro Aquele que nos revela o sentido do caminho percorrido até aí...Para não perder de vista este caminho, o "olho do corpo" deve estar são, disse Jesus. Pois "se o teu olho estiver doente, todo o teu corpo ficará escuro". O olho do nosso corpo é a nossa concepção.

Endereço do autor:
Seminário do Espírito Santo
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